Itapema abriga uma história profundamente enraizada aos tempos da escravidão, revelando uma complexa teia de memórias e tradições que marcaram a região desde o início de sua ocupação. Pesquisas e levantamentos históricos, como os realizados pelo professor Arthur Buzzi e guardados no Arquivo Histórico da Câmara de Vereadores de Itapema, mostram a presença de escravizados negros em Porto Belo (que naquela época englobava o atual território de Itapema), com registros datando de 1881. Esses estudos e pesquisas  não apenas iluminam o passado de Itapema mas também destacam o papel vital dos escravizados na formação socioeconômica e cultural da localidade.

A documentação analisada aponta para a existência de uma população escravizada atuante em diversas frentes, desde as lavouras até os serviços domésticos, e a presença de comunidades como o Sertão do Valongo, reconhecido como remanescente de quilombos pela Fundação Palmares e pelo Ministério da Cultura. O historiador José Bento Rosa da Silva amplia essa visão ao mapear a dispersão e contribuição dos escravizados e seus descendentes em toda a região do litoral catarinense, evidenciando uma diáspora forçada pela atividade baleeira e pelos intercâmbios comerciais de escravos, que foram fundamentais para o desenvolvimento econômico e a ocupação efetiva do território.

Além da força de trabalho, os escravizados e seus descendentes legaram à Itapema uma rica miscelânea cultural que persiste até os dias atuais. Suas manifestações religiosas, saberes, fazeres e tradições se entrelaçaram com as dos imigrantes europeus e indígenas, criando um mosaico único de influências que caracteriza o patrimônio imaterial da região. Essa herança cultural, que inclui festas populares, cantorias, e conhecimentos tradicionais na medicina popular, reflete a capacidade de resistência e adaptação dessas comunidades ao longo dos séculos, marcando indelevelmente a identidade de Itapema e contribuindo para a compreensão mais ampla da história de Santa Catarina.