A cultura bruxólica açoriana é um dos elementos mais intrigantes do folclore e das tradições das ilhas dos Açores, um arquipélago português situado no Atlântico Norte. Esta cultura está profundamente enraizada nas histórias e nas práticas da população local, refletindo uma mistura única de crenças pagãs e influências cristãs que foram se acumulando o ao […]
A cultura bruxólica açoriana é um dos elementos mais intrigantes do folclore e das tradições das ilhas dos Açores, um arquipélago português situado no Atlântico Norte. Esta cultura está profundamente enraizada nas histórias e nas práticas da população local, refletindo uma mistura única de crenças pagãs e influências cristãs que foram se acumulando o ao longo dos séculos.
Nos Açores, a bruxaria e o ocultismo têm uma conotação menos negativa do que em muitas outras culturas, sendo frequentemente vistas como parte de um legado místico que abrange curandeirismo, previsões do futuro, proteção contra o mau-olhado e a prática de rituais que se acredita trazerem sorte, saúde e prosperidade. A figura da bruxa, longe de ser apenas um símbolo de maldade, é muitas vezes vista como um ser detentor de sabedoria antiga e poderes especiais, capaz de curar e de proteger a comunidade.
Um dos aspectos mais peculiares da cultura bruxólica açoriana é a sua rica tradição oral, composta por lendas, contos e mitos que foram passados de geração em geração. Estas histórias frequentemente incluem elementos sobrenaturais, como espíritos, fadas e criaturas mágicas, que coexistem com os humanos e influenciam a vida quotidiana das pessoas.
Segundo os relatos encontrados no livro “De Tapera para Itapema” de Vilson Francisco de Farias, as mulheres, geralmente mais velhas, transformavam-se por meio de fados para atormentar a população. Estranhos acontecimentos foram atribuídos a estas figuras misteriosas, desde doenças em crianças até desordens inexplicáveis. A crença diz que a filha mais nova de uma família com sete filhas mulheres seguidas é uma bruxa, mas este feitiço pode ser desfeito se a filha mais velha batizar a caçula.
Os relatos incluem também encontros assustadores, como o de Raimundo Marques, do Sertão do Trombudo, que viu uma bruxa montada em um cavalo branco, trajando roupas da mesma cor, uma visão que lhe causou grande espanto. Outras narrativas descrevem bruxas saindo à meia-noite para cometer atos de maldade, como chupar o sangue das crianças, deixando-as debilitadas.
Uma das práticas mencionadas para acabar com a maldição envolvia bater as roupas da criança afetada em um pilão, conforme compartilhado por João José Isidoro, de Meia Praia. Este método era uma das maneiras encontradas pelos moradores para tentar proteger os mais vulneráveis dos efeitos maléficos da bruxaria.
Ainda, histórias de coragem e aventura surgem entre os relatos, como o de Eliezer da Silva, do Alto São Bento, que conta a experiência de Seu Manoel Gandino. Curioso para descobrir quem causava desordens em sua lancha de pesca, Gandino escondeu-se na embarcação e presenciou duas mulheres que, após levarem a lancha para o mar, rumaram à ilha de Porto Belo com intenções sinistras. Ao retornarem, perceberam um cheiro estranho na lancha, mas não conseguiram encontrar Gandino, que permanecia escondido, testemunhando a verdade por trás dos eventos misteriosos que perturbavam os pescadores locais.