Iniciativa vitoriosa, nascida no bairro de Morretes, depende de doações para continuar O amor é o que importa. Sensibilizada pela situação de vulnerabilidade social, miséria e desamparo em sua terra natal, São Miguel D’Oeste (extremo oeste catarinense), Leidaiana Borges Müller resolveu agir, começando, algum tempo depois, na própria garagem de casa (na rua 408, em […]
Iniciativa vitoriosa, nascida no bairro de Morretes, depende de doações para continuar
O amor é o que importa. Sensibilizada pela situação de vulnerabilidade social, miséria e desamparo em sua terra natal, São Miguel D’Oeste (extremo oeste catarinense), Leidaiana Borges Müller resolveu agir, começando, algum tempo depois, na própria garagem de casa (na rua 408, em Morretes), o embrião do que se tornaria uma iniciativa vitoriosa e inspiradora. Ali nascia a ONG – Associação Beneficente ‘Cantinho da Alegria’, instituição sem fins lucrativos que, ao longo de mais de uma década de ações sociais, não dispôs de qualquer incentivo ou apoio financeiro governamental (municipal, estadual ou federal).
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Se houvesse uma classificação no Guinness (livro dos recordes), certamente a ONG poderia figurar facilmente como recordista, por ter atendido (e recuperado) mais de 5 mil crianças, em seus mais de dez anos de benfeitorias voluntárias. As doações podem ser feitas pelo Pix, que é o nº do CNPJ (28639511000177) da ONG Associação beneficente Cantinho da Alegria.
Única instituição social da cidade a realizar uma festa para as crianças no próprio Dia de Natal – e não bem antes da data, como a maioria faz – a ONG preparou um evento perfeito para as crianças, grande parte carente.
Numa programação recheada de carinho, iniciada às 11h da manhã desta segunda natalina, às crianças e familiares foi oferecida uma mesa farta, com direito a frango assado, arroz com passas, salada de maionese, farofa com bacon, saladas variadas, sem contar tortas salgadas, salgados e diversos bolos de Natal, nega maluca e refrigerantes, entre outros quitutes.
Mas as surpresas não param por aí. Sustentada por doações as mais diversas, a organização instituiu um critério basilar da vida e que, muitas vezes, está ausente nas relações sociais: o mérito, critério pelo qual os pequenos receberam presentes especiais, que vão desde bicicletas (42); um Play Station5, IPhone; celulares; patinete elétrica e um notebook.
Tudo começa quando as crianças atendidas pela ONG escrevem a chamada ‘Carta dos Sonhos’, na qual deixam expresso o presente desejado. Mas para conquistá-lo, elas precisam ter apresentado, tanto na escola, quanto em casa, um comportamento exemplar, o que não é coisa lá muito fácil. Mesmo assim, a maioria conseguiu atingir à meta e fazer jus ao regalo.
‘Carta dos sonhos‘ – “Caso ela tenha a ‘carta dos sonhos’, mas ela não se comporta bem e está fazendo ‘coisas erradas’, ela perde a carta. Também acontece de a criança que perde a carta mudar [choque de realidade], para fazer por merecer, porque não estamos aqui por obrigação, mas por amor, e se for por amor, tem que ser recíproco. A gente abre a porta, eles vêm, mas têm que fazer por merecer. Tem que respeitar, desde o cuidador, da merendeira, do professor, independentemente de quem for, tem que respeitar, fazer por merecer. Outro reflexo é que as crianças, muitas vezes, educam os pais e os corrigem quando falam palavrão, ouvem funk ou fumam na escola. Às vezes, tenho que dar ‘uma dura’, tanto nas crianças, quanto nos país, que ficam meio chateados, de início, mas depois concordam e agradecem. Vemos hoje muitos pais engajados na organização, na limpeza, na comida e na entrega dos presentes”, conta Leidaiana, mãe de oito filhos (à espera do nono), graduada em Educação Física, Pedagogia e Perícia Criminal, formada em artes marciais e atualmente cursando Tecnologia em Investigação Forense.
Sem esconder a faceta de ‘mãezona’, Leidaiana acrescenta que “querer fazer o melhor não é deixar as crianças fazer o que bem entendem. Ela não vai se desenvolver se não tiver limite, no fundo elas gostam de serem chamadas a atenção, a exemplo de quando o caderno está com orelha, o tênis está sujo e a lição está escrita numa letra que não dá para entender nada. Na hora, elas ficam carrancudas, mas depois agradecem, porque a nota vem melhor e o boletim vem melhor”.
Atuante por todo ano, em que realiza programações semelhantes em datas centrais para as crianças (Páscoa, Dia das Crianças e o Natal), a ONG é mantida por doações voluntárias de empresas sensíveis à essa causa social, que superam hoje a casa de R$ 40 mil mensais. Coincidência ou não, pela primeira vez, a instituição está deficitária em pouco mais de R$ 6mil, para cumprir com a sua responsabilidade. Também pela primeira vez, ela recebeu ajuda da Prefeitura local, sob a forma de cestas básicas.
Por amor – “Acho que se a gente quer fazer algo por criança tem que ser por amor, não por números ou para divulgar aquilo que você faz nas redes sociais. Aquilo que você faz tem que ser realmente por amor. Ou você ama, acolhe as crianças da melhor forma ou não acolhe. Fazer só para dizer que fez uma ação não vale, porque hoje é o dia que não quero que eles estejam na rua, catando material reciclável, não quero que eles passem fome”, comenta a mentora da ONG, para quem o que importa é que os pequenos não “se sintam excluídos. Eu procuro a equidade, um princípio que faz as pessoas melhores. Enquanto tivermos a empatia de atendermos as pessoas da mesma forma que gostamos de ser tratados. Para mim, hoje é o que mais lindo é ver eles comerem [emocionada). Não parei para almoçar, mas me senti satisfeita vendo que eles saem daqui com ‘barriguinha’ cheia, levando presentes, levando para casa chocolate, felizes, sorrindo, com os pais agradecendo, enfim, se sentindo amados”, conclui.