Em nota, a Secretaria de Saúde afirmou que o Hospital Santo Antônio procurou efetuar todos os procedimentos possíveis para amenizar a dor do paciente
Ivo Silva Machado, morador de Itapema, denunciou na Tribuna do Povo o atendimento precário que seu irmão, diagnosticado com câncer de esôfago, recebeu no Hospital Santo Antônio. A denúncia ocorreu na Câmara de Vereadores de Itapema, na sessão desta terça-feira (16). Após ouvirem de uma médica que o hospital não poderia fazer nada pelo homem e serem inicialmente encaminhados para um posto de saúde local, demoraram dois dias para obter um encaminhamento para o Hospital Ruth Cardoso. Lá, o paciente sofreu uma parada cardíaca e, apesar das tentativas de resgate médico, incluindo sedação e coma induzido, morreu cinco dias após sua internação.
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A primeira vez que Ivo levou seu irmão ao Hospital Santo Antônio foi logo após receber o resultado de um exame de endoscopia, no dia 5 de março, já com o diagnóstico de câncer de esôfago e entendendo a gravidade da doença que o irmão enfrentava. Ele apresentava falta de ar devido a intensidade das dores. Naquela noite, ao tentarem atendimento, uma médica informou que “não tinha muito recurso e que [o hospital] era precário”, deixando claro que não podiam fazer nada para ajudar o paciente.
Durante a endoscopia realizada em uma clínica particular, os médicos descobriram uma lesão grave no esôfago do irmão de Ivo, com ulceração e necrose ao redor do órgão. A severidade do diagnóstico aumentava a necessidade de tratamento adequado e imediato.
Após a negativa no hospital, Ivo levou seu irmão ao posto de saúde do bairro Tabuleiro, mas lá, eles chegaram pouco antes do fechamento dos atendimentos sem agendamento. Orientados a voltar em outra ocasião devido ao horário, mesmo com a dor intensa do irmão, a situação forçou-os a retornar para casa sem nenhum auxílio.
Na manhã seguinte, a situação não melhorou. No posto de saúde, foram mal recebidos pelo médico Jorge. “Ele nem se quer olhava bem pra gente, sabe?”, afirmou Ivo. O médico, conforme o relato, desdenhosamente questionou: “o que tu queres que eu faço?”. Ivo respondeu pedindo que o médico orientasse o que deveriam fazer, mas apenas receberam uma receita para mais exames e um encaminhamento para outro hospital, marcado para 26 dias depois.
Na mesma noite, com o irmão passando muito mal, Ivo retornou ao Hospital Santo Antônio. Lá, receberam apenas cuidados paliativos, insuficientes para o estado grave do paciente. “Por volta das 3h da manhã, a enfermeira colocou um ‘tubinho’ de oxigênio, dizendo que ia fazer um teste para ver se aliviava,” contou Ivo, claramente indignado o tratamento.
Pouco tempo depois, um médico finalmente realizou um raio-x, após Ivo insistir que seu irmão já havia sido negligenciado anteriormente. “Falei para o médico: ‘Doutor, vim aqui ontem, não atenderam. Fui no posto de saúde, não atenderam. Agora estou aqui novamente’. Meu irmão tinha tanta dor que não conseguia parar deitado, de pé nem sentado”.
O exame revelou inflamação no pulmão, além do quadro já diagnosticado de câncer na garganta e esôfago, o que finalmente provocou uma reação do médico. Somente após o raio-x e o reconhecimento da gravidade da situação, o corpo médico decidiu mobilizar-se para transferir o paciente de ambulância para o hospital Ruth Cardoso. Ivo lamentou: “Podiam ter feito isso no primeiro momento, no primeiro dia que chegamos com o exame.”
Ao chegarem ao Hospital Ruth Cardoso, Ivo e seu irmão enfrentaram um novo desafio: apesar do aviso prévio do Hospital Santo Antônio sobre a gravidade do caso, eles foram inicialmente ignorados na recepção. “A moça chegou lá, deixou o prontuário em cima do balcão e foi embora”, relata Ivo. Necessitaram de uma nova triagem enquanto o irmão de Ivo lutava com dores intensas, a ponto de deitar-se no chão do hospital.
Durante o relato Ivo foi tomado pela emoção. Ele fez pausas para recuperar a compostura enquanto descrevia o tratamento que receberam no sistema de saúde.
A situação só começou a mudar quando uma enfermeira notou a gravidade da condição do paciente pela palidez de sua pele. Ela prontamente chamou o médico responsável, que se surpreendeu por não ter sido notificado mais cedo. “Depois disso, mais três, quatro ou cinco médicos e uma enfermeira levaram ele para dentro”, conta Ivo. Pouco depois, veio a notícia de que seu irmão havia sofrido uma parada cardíaca, da qual os médicos conseguiram reanimá-lo após cinco minutos.
Os esforços médicos continuaram na sala de cirurgia, onde drenaram a inflamação detectada no pulmão. O médico informou a Ivo que, embora a inflamação pudesse ser tratada, o câncer avançado na garganta era irreversível. A partir de então, decidiram sedar o paciente, colocando-o em coma induzido para aliviar seu sofrimento. “Isso deu uma aliviada, apesar de tudo, ele não está mais sentindo dor”, desabafou Ivo.
Ivo reflete sobre as circunstâncias. “Ele tinha um exame, estava demonstrando fisicamente que estava doente, chegou lá no hospital e foi atendido desse jeito”, pondera Ivo. “Eu fico pensando nas pessoas que não tem um exame, que não tem a aparência de doente, como é que ela é tratada?”, questionou. Cinco dias após o início do tratamento no Hospital Ruth Cardoso e cinco dias após a internação inicial, o irmão de Ivo morreu.
Procurados pela equipe do Lance Itapema, a Secretaria de Saúde emitiu a seguinte nota:
”De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde os casos de tratamento oncológico seguem o cronograma determinado pelo hospital de referência da região, neste caso a Unacon de Itajaí. Ou seja, todos os pacientes que necessitam tratamento oncológico são cadastrados em nossos sistema e interligados com a Unacon, onde eles determinam data de consultas e início do tratamento. No caso do paciente citado na matéria, o Hospital Santo Antônio procurou efetuar todos os procedimentos possíveis para amenizar a dor do paciente, como o caso evoluiu para uma maior gravidade, tornando-se uma infecção pulmonar grave, potencializada pelo diagnóstico oncológico, foi necessário a transferência para um hospital com mais recursos para tratamento do caso. Infelizmente as equipes de Itapema e Balneário Camboriú não conseguiram manter vivo um paciente em situação oncológica grave e acometido por uma infecção pulmonar. A Secretaria Municipal de Saúde de Itapema, se solidariza com familiares e amigos do paciente e está à disposição para quaisquer esclarecimentos.”