Saúde

Camila Diel | 22/03/2024 16:18

22/03/2024 16:18

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Você sabe por que a mídia evita noticiar casos de suicídio?

A escolha de limitar a reportagem sobre suicídios se baseia em um compromisso com a responsabilidade social e na compreensão dos riscos que a divulgação desses casos pode acarretar

Em um mundo onde a informação é instantânea e omnipresente, a mídia tem o poder de moldar percepções e influenciar comportamentos. No entanto, ela se abstém de cobrir um tópico delicado com potenciais implicações perigosas: o suicídio. A escolha de limitar a reportagem sobre suicídios se baseia em um compromisso com a responsabilidade social e na compreensão dos riscos que a divulgação desses casos pode acarretar.

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Especialistas em saúde mental e entidades como a Organização Mundial da Saúde sublinham o risco do “efeito contágio”, onde a cobertura intensiva pode levar a um aumento nos casos de suicídio, especialmente entre os mais vulneráveis. Esse fenômeno, também conhecido como efeito Werther, destaca a necessidade de uma abordagem cuidadosa e ética por parte da mídia.

Para combater o potencial negativo da reportagem sobre o suicídio, a mídia segue diretrizes estritas, evitando detalhar métodos ou localizações e, em vez disso, focando na inclusão de informações sobre serviços de apoio e prevenção. Esta prática visa fornecer ajuda a quem pode estar enfrentando uma crise, ao invés de instigar a curiosidade mórbida.

Além disso, a mídia tem a função de proteger os familiares e amigos das vítimas, evitando a exposição excessiva e a estigmatização. Mantendo a privacidade e a dignidade dessas famílias, a intenção é minimizar o sofrimento ainda maior, em um momento em que as pessoas já precisam lidar com o luto.

Outro aspecto da cobertura mediática do suicídio é o foco em histórias de superação e recuperação, incentivando aqueles em situações similares a procurar ajuda e a cultivar esperança. Essas narrativas positivas têm o poder de inspirar e motivar a comunidade.

Conforme o artigo científico Evidências entre mídia e Suicídio: efeito contágio das produções jornalísticas e ficcionais – de Raquel Carriço Ferreira E Kaippe Arnon Silva Reis, um estudo do IPEA revelou a influência significativa da mídia no comportamento suicida, colocando-a como o terceiro maior motivador de suicídios no Brasil, atrás apenas do desemprego e da violência. Isso demonstra o impacto profundo que as notícias podem ter sobre os indivíduos, especialmente quando propagadas sem o devido cuidado.

De acordo com a OMS, o pico de imitação de suicídios ocorre nos primeiros três dias após a divulgação de uma notícia, com efeitos que podem se estender por semanas. Esse dado ressalta a importância de uma cobertura mediática responsável e medida.

A postura da mídia em relação à cobertura de suicídios tem o dever de se manter uma abordagem equilibrada e ética, com o objetivo de promover uma sociedade mais segura e consciente. Ao priorizar a responsabilidade social e a prevenção, a mídia desempenha um papel crucial na redução do estigma em torno da saúde mental e encoraja um diálogo aberto e saudável sobre o assunto.

Compreender por que a mídia evita reportar casos de suicídio mostra que a escolha visa proteger a saúde e o bem-estar da sociedade. Isso destaca a necessidade de abordar temas delicados com cuidado e respeito que eles merecem. Assim, enquanto a mídia continua a ser uma fonte de informação e educação, ela também assume a responsabilidade de proteger sua audiência.

Projeto de Lei busca orientar cobertura de suicídio pela mídia

Um novo Projeto de Lei (PL 1970/23) em discussão na Câmara dos Deputados propõe diretrizes para a cobertura jornalística de suicídios e tentativas de suicídio, visando minimizar os riscos de estímulo a tais práticas e prevenir a glamourização desses atos. O texto sugere alterações na Política Nacional de Prevenção da Automutilação e do Suicídio (Lei 13.819/19), ampliando as medidas de proteção à saúde mental.

Inspirado pelo manual da Organização Mundial da Saúde sobre prevenção do suicídio, o deputado Fábio Macedo (Pode-MA), autor da proposta, enfatiza a importância da responsabilidade jornalística. Segundo ele, enquanto a divulgação cuidadosa pode prevenir tragédias, coberturas sensacionalistas ou negligentes podem ter impactos negativos, potencialmente incitando mais casos.

O PL estabelece que veículos de comunicação, incluindo plataformas digitais, devem adotar práticas como a divulgação do número do Centro de Valorização da Vida (CVV – Ligue 188), a utilização de informações verificadas, a não divulgação de imagens ou detalhes explícitos sobre o método de suicídio, além de evitar a publicação de cartas de despedida ou enfatizar o sofrimento dos familiares e as consequências de tentativas não fatais.

O descumprimento das normas propostas pode resultar em multas significativas para os veículos de comunicação, variando de 20 a 100 salários mínimos, com possibilidade de duplicação em casos de reincidência. A proposta ainda será examinada em caráter conclusivo pelas comissões pertinentes, aguardando a análise final da Comissão de Saúde.

Buscar ajuda é sinal de força

O Centro de Valorização da Vida (CVV) oferece apoio emocional e prevenção do suicídio, atuando como um canal aberto para conversas e acolhimento de pessoas que estão enfrentando momentos de crise ou pensamentos suicidas. Se você ou alguém que conhece precisa de ajuda, não hesite em contatar o CVV pelo número 188, que funciona 24 horas por dia, todos os dias da semana, de forma gratuita e confidencial. Lembre-se, buscar ajuda é um sinal de força e o primeiro passo para superar dificuldades.

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